segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Carta de uma amiga

Amiga: Conforme minha promessa, estou enviando um
e-mail contando as novidades da minha primeira semana
depois de ser transferida pela firma para o Rio de
Janeiro. Terminei hoje de arrumar as coisas no meu novo
apartamento.
Ficou uma gracinha, mas estou exausta. São dez da noite
e já estou pregada.
Segunda-Feira:
Cheguei na firma e já adorei. Entrei no elevador quase
no mesmo instante que o homem mais lindo desse planeta.
Ele é loiro, tem olhos verdes e o corpo musculoso
parece querer arrebentar o terno. Lindooooo! Estou
apaixonada.
Olhei disfarçadamente a hora no meu relógio de pulso e
fiz uma promessa de estar parada defronte ao elevador
todos os dias a essa mesma hora. Ele desceu no andar da
engenharia.
Conheci o pessoal do setor, todos foram atenciosos
comigo. Até o meu chefe foi super delicado. Estou
maravilhada com essa cidade.
Cheguei em casa e comi comida enlatada. Amanhã vou a um
mercado comprar alguma coisa.
Terça-Feira:
Amiga! Precisava contar.
Sabe aquele homem de quem falei? Ele olhou para mim e
sorriu quando entramos no elevador. Fiquei sem ação e
baixei a cabeça. Como sou burra!
Passei o dia no trabalho pensando que preciso fazer um
regime. Me olhei no espelho hoje de manhã e estou com
uma barriguinha indiscreta. Fui no mercado e só comprei
coisinhas leves: biscoitos, legumes e chás. Resolvido!
Estou de dieta.
Quarta-Feira:
Acordei com dor-de-cabeça. Acho que foi a folha de
alface ou o biscoito do jantar. Preciso manter-me firme
na dieta. Quero emagrecer dois quilos até o
fim-de-semana.
Ah! O nome dele é Marcelo. Ouvi um amigo dele falando
com ele no elevador. E ainda tem mais: ele desmanchou o
noivado há dois meses e está sozinho. Consegui sorrir
para ele quando entrou no elevador e me cumprimentou.
Estou progredindo, né? Como faço para me insinuar sem
parecer vulgar?
Comprei um vestido dois números menor que o meu. Será a
minha meta.
Quinta-Feira:
O Marcelo me cumprimentou ao entrar no elevador. Seu
sorriso iluminou tudo! Ele me perguntou se eu era a
arquiteta que viera transferida de Brasília e eu só
fiz: "U-hum"... Ele me perguntou se eu estava gostando
do Rio e eu disse: "U-hum". Aí ele perguntou se eu já
havia estado antes aqui e eu disse: "U-hum". Então ele
perguntou se eu só sabia falar "U-hum" e eu respondi:
"Ã-hã". Será que fui muito evasiva? Será que eu deveria
ter falado um pouco mais? Ai, amiga! Estou tão
apaixonada!
Estou resolvida!Amanhã vou perguntar se ele não
gostaria de me mostrar o Rio de Janeiro no final de
semana.
Quanto ao resto, bem... ando com muita enxaqueca. Acho
que vou quebrar meu regime hoje. Estou fazendo uma sopa
de legumes. Espero que não me engorde demais.
Sexta-Feira:
Amiga! Estou arruinada! Ontem à noite não resisti e me
empanturrei. Coloquei bastante batata-doce na sopa,
além de couve, repolho e beterraba. Menina, saí de casa
que parecia um caminhão de lixo. Como eu peidava!
(nossa! Você não imagina a minha vergonha de contar
isto, mas se eu não desabafar, vou me jogar pela
janela!).
No metrô, durante o trajeto para o trabalho, bastava
um solavanco para eu soltar um futum que nem eu mesma
suportava. Teve um momento em que alguém dentro do trem
gritou: "Aí! Peidar até pode, mas jogar merda em pó
dentro do vagão é muita sacanagem!" Uma senhora gorda
foi responsabilizada. Todo mundo olhava para ela,
tadinha. Ela ficou vermelha, ficou amarela, e eu
aproveitava cada mudança de cor para soltar outro. O meu
maior medo era prender e sair um barulhento. Eu estava
morta de vergonha. Desci na estação e parei atrás de
uma moça com um bebê no colo, enquanto aguardava minha
vez de sair pela roleta. Aproveitei e soltei mais um. O
senhor que estava na frente da mulher com o bebê
virou-se para ela e disse: "Dona! É melhor a senhora
jogar esse bebê fora porque ele está estragado!". Na
entrada do prédio onde trabalho
tem uma senhora que vende bolinhos, café, queijo, essas
coisas de camelô. Pois eu ia passando e um freguês
começou a cheirar um pastel, justo na hora em que o
futum se espalhou. O sujeito jogou o pastel no lixo e
reclamou: "Pó, dona Maria! Esse pastel tá bichado!"
Entrei no prédio resolvida a subir os dezesseis
degraus pela escada. Meu azar foi que o Marcelo ficou
segurando a porta, esperando que eu entrasse. Como não
me decidia, ele me puxou pelo braço e apertou o botão do
meu andar.
Já no terceiro andar ficamos sozinhos. Cheguei a me
sentir aliviada, pois assim a viagem terminaria mais
rápido. Pensei rápido demais. O elevador deu um
solavanco e as luzes se apagaram. Quase instantaneamente
a iluminação de emergência acendeu. Marcelo sorriu (ai,
aquele sorriso...) e disse que era a bruxa da
sexta-feira. Era assim mesmo, logo a luz voltaria, não
precisava se preocupar. Mal sabia ele que eu estava
mesmo preocupada.
Amiga, juro que tentei prender. Mas antes que saísse
com estrondo, deixei escapar. Abaixei e fiquei
respirando rápido, tentando aspirar o máximo possível,
como se estivesse me sentindo mal, com falta de ar. Já
se imaginou numa situação dessas? Peidar e ficar
tentando aspirar o peido para que o homem mais lindo do
mundo não perceba que você peidou? Ele ficou muito
preocupado comigo e, se percebeu o mau cheiro, não o
demonstrou. Quando achei que a catinga havia passado,
voltei a respirar normal. Disse para ele que eu era
claustrófoba. Mal ele me ajudou a levantar, eu não
consegui prender o segundo, que saiu ainda pior que o
anterior. O coitado dessa vez ficou meio azulado, mas
ainda não disse nada. Abaixei novamente e fiquei
respirando rápido de novo, como uma mulher em estado de
parto. Dessa vez Marcelo ficou afastado, no canto
mais distante de mim no elevador. Na ânsia de disfarçar,
fiquei olhando para a sola dos meus sapatos, como se
estivesse buscando a origem daquele fedor horroroso.
Ele ficou lá, no canto, impávido.
Nem bem o cheiro se esvaiu e veio outro. Ele se
desesperou e começou a apertar a campainha de
emergência. Coitado! Ele esmurrou a porta, gritou,
esperneou, e eu lá, na respiração cachorrinho. Quando a
catinga dissipou, ele se acalmou.
As lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos. Ele
me viu chorando, enxugou meus olhos e disse: "Meus
olhos também estão ardendo..." Eu juro que pensei que
ele fosse dizer algo bonito. Aquilo me magoou
profundamente. Pensei: "Ah, é, FDP? Então acabou a
respiração cachorrinho..." Depois disso, no primeiro ele
cobriu o rosto com o paletó. No segundo, enrolou a
cabeça. No terceiro, prendeu a respiração, no quarto,
ele ficou roxo. No quinto, me sacudiu pelos braços e
berrou: "Mulher! Pára de se cagar!". Depois disso ele só
chorava. Chorou como um bebê até sermos resgatados,
quatro horas depois. Entrei no escritório e pedi minha
transferência para outro lugar, de preferência outro
País.

Quis apenas partilhar com você!!!!!
Bjkas

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